quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Então é isso.



Você entra, calado, quieto, desconfiado, senta no canto do quarto. Eu te acompanho, calado, quieto, desconfiado, sento longe de você. Ninguém diz uma palavra. Ninguém abre a boca. Por cinco, dez, quinze minutos... Até que você resolve murmurar alguma coisa. Eu não entendo. Você aumenta o som da sua voz. Eu respondo que não, que não tenho nada a dizer. E eu não tinha. Eu sei. Você sabe. Era a coisa certa a se fazer. Eu não consegui ir atrás de você. Permaneci no mesmo lugar, imóvel, como se fingisse pra mim mesmo que nada daquilo estava acontecendo. Foi como se eu colocasse meu coração contra a parede e dissesse: não sinta nada. E eu não senti. Deixei que o trabalho, o estudo, todas as responsabilidades controlassem a minha vida, de tal forma que não fosse possível pensar em mais nada. Talvez assim fosse mais fácil. E foi. Vinha sendo. De repente, foi como se a ficha tivesse caído, entende? Faz sentido, porque eu ainda não tinha me permitido derramar uma lágrima sequer. Acho que por receio de não querer parecer fraco pra mim mesmo. Por mais que eu saiba e tenha certeza, que era assim que tinha que ser, mesmo assim, mesmo com toda essa aceitação, ainda dói. E dói pra caramba. Como se alguém espremesse todos os meus órgãos, um por um e bem lentamente. Toda despedida é dolorosa. Todo rompimento é difícil. É ainda pior porque você se vê só. De novo. Olha em volta e não vê mais nada. Ninguém. É como se você acordasse no dia seguinte em um lugar totalmente diferente, sem saber como foi parar lá. Mas é a mesma cama, a mesma vidraça, a mesma janela, o mesmo lençol. Não, não é a mesma coisa. Não é a mesma vida. Não é a mesma rotina. É tudo completamente diferente. Você é outra pessoa. Eu sou outra pessoa. Não somos dois estranhos, mas não somos mais o que éramos ontem. E sabe o que mais me assusta nesse mundo novo? É que eu me sinto inseguro, de novo.

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