sábado, 4 de julho de 2015

é quando a noite cai.

é quando cai a noite que eu lembro. que teu rosto surge. que tuas mãos que nunca tocaram as minhas apertam meu peito. sinto o gosto da tua saliva na minha boca. desafogo as palavras que nunca foram ditas. e pensar que você nem me conhecia, embora soubesse que eu existia. carne. osso. cicatrizes. traumas. conflitos. tudo exposto. tudo colocado na mesa. escancarado. mas você não se assusta. você não me põe pra fora. sorri. aceita. aperta minha mão ainda mais forte. se aproxima. abraço vira abrigo. e teu colo é o lugar mais aconchegante da casa. teus livros nas estantes. o último jogado em cima da cama. os filmes que você coleciona. romance. terror. comédia. drama. as tuas manias pintadas na parede do quarto. o tapete estampado. o copo com um restinho de café. tarde demais. eu já te tenho correndo nas minhas veias. tatuado dos pés a cabeça. impregnado no meu olfato. é quando a noite cai que eu lembro que eu e você não somos "nós". e talvez nunca seremos. que você sempre vai saber que eu existo. mas que nunca irá além disso. você vai me ver por aí e largar um sorriso na minha direção. sem sequer desconfiar que esse texto foi feito pra ti.