segunda-feira, 30 de novembro de 2015

queria não lembrar de você.

como que a gente começa um texto que se trata de esquecimento, quando existem milhares espalhados por aí. minha dor é tão parecida com a da Júlia, a do Ricardo, a da dona da pastelaria da esquina que eu esqueci o nome, a secretária da empresa onde eu trabalho. somos vários tentando esquecer alguém. alguém que marcou, mas teve que dizer adeus. alguém que magoou a gente sem ver nem pra que. não, não esquecemos, isso é fato. aprendemos a conviver com a falta, essa é a única solução. esses dias eu estava chegando próximo ao bebedouro, quando ouvi a Ana comentar com a Jéssica, que teria repetido o mesmo erro de novo. que teria ligado pro Renato e dito um bocado de coisa que a gente acaba guardando por orgulho, ou porque sabe que não vai fazer diferença nenhuma pro outro ouvir aquilo da gente. mas ela disse. e mesmo sem ele ter recebido tudo positivamente, a Ana se sentiu melhor. pensei: tá aí uma coisa que eu não consigo fazer. se é ser trouxa, dar murro em ponta de faca, eu não sei. cada um lida com suas dores de forma diferente. quem sou eu pra dizer que ela deveria ter ficado quieta? hoje eu tô aqui, deitado na rede, olhando pro teto e pensando o que você estará fazendo agora. provavelmente voltando do trabalho. procurando um lugar pra comprar um lanche porque na sua casa não tem nada pronto e você está com muita fome. provavelmente estará acompanhado. ele vai te recomendar lugares novos pra você comer. e você vai fazer as mesmas perguntas que me fez. vai cantar alguma música no violão. quem sabe as coisas vão dar certo dessa vez. o problema não é o processo que dá errado, são os personagens. eu jurava, jurava mesmo, que eu era a peça que iria se encaixar no teu quebra-cabeça. mas não era. e quando é assim não adianta forçar. não adianta correr pra pegar uma tesoura e cortar um pedaço pra caber. ninguém deve mudar pra se encaixar em ninguém. e por mais que isso doa, e me faça chorar no carro ouvindo "You were mine just yesterday, now I have no idea who you are", eu também não vou mudar.