terça-feira, 28 de maio de 2013

TARDE DEMAIS.

Agora é tarde demais para voltar atrás. Não há um jeito de devolver uma flor ao seu local de origem. É assim com as oportunidades, com os amores da vida. Não adianta se debruçar, colocar o lençol sobre o rosto e espernear quando o sol começa a entrar pelas frestas da janela. Acorda. Não tem outra chance. Dessa vez, infelizmente, não. Dançamos o que tínhamos para dançar. Fomos à feira no domingo. Dividimos taças e mais taças calóricas de sorvete de creme. Não haverão mais almoços aos sábados. Nossas mãos sujas de sobremesa. Eu enxáguo e você enxuga. Agora sou eu quem passa o aspirador de pó pela casa toda. Lavo e enxugo os pratos. Faço minhas próprias refeições. Eu disse que uma hora o tempo de correr atrás acabaria. Tic tac. Eu avisei. Mais de uma vez. Enquanto chovia, enquanto assistíamos televisão, enquanto você corria na esteira, enquanto discutíamos. E você, ah, você não deu a mínima. Sempre achou que conseguiria sobreviver muito bem sozinha. Sempre achou que eu não conseguiria superar as tuas expectativas, ser melhor que o seu ex. Eu nunca disse que te daria um relacionamento perfeito. Ofereci minhas mãos, meu colo, meu carinho, minhas preces, minhas músicas preferidas, meus vícios, minhas neuras, meus sacrifícios, meus contratempos, meus desastres, meu amor. Nada disso era suficiente. O que te fez mudar de ideia? O que fez você vir até aqui em plena madrugada e começar a chorar na minha frente? Sabe quem está lá dentro agora? Você sabe? Alguém que ainda não conheceu metade do que eu te ofereci, e consegue viver (muito) bem aqui comigo. Não foram horas, dias, meses, Ana. Foram anos. Anos da minha vida tentando fazê-la acreditar que eu era um cara de flores, bombons e todos aqueles clichês românticos. Quer dizer que você estava perdida? Essa foi a razão pra você ter terminado comigo através de um bilhete, depois de eu achar que, sei lá, você estivesse morta? A porra de um bilhete que eu achei embaixo da cama, provavelmente arrastado para lá por culpa do vento. O mais estranho disso tudo é que agora eu te olho dos pés a cabeça, e não te reconheço. Se você pensou que esse era o lugar onde você iria se encontrar, sinto te informar, é tarde demais.

domingo, 19 de maio de 2013

ESFORÇO FÍSICO E MENTAL.

Estar em um relacionamento é uma estrada difícil. O ciúme cria sensações nunca sentidas antes quando solteiro. O perigo está em todos os cantos. E existe de todas as formas possíveis, imprevisíveis e impossíveis. Medo do outro acordar no dia seguinte e achar que tudo foi um erro, perca de tempo. Medo de estar confiando e sofrer a maior decepção, um tombo sem volta, uma ferida para fazer companhia a tantas outras, cuja as mesmas já estão sendo vagarosamente estancadas. Esforço-me diariamente para ser aquele que o outro espera. Fisicamente, mentalmente. Não desejo mais do que belos dias para nós dois. Diálogos amorosos. Confiança indestrutível. Quero que sejamos um desses casais inabaláveis, independente de qualquer circunstância. Infelizmente, as experiências anteriores acabam deixando marcas irreparáveis. Sempre com um pé atrás. Sempre com receios e medos. Medo de olhar embaixo da cama e encontrar o bicho papão. Chega uma hora que você cansa de pedir ao outro que confie em você. É melhor deixar rolar. Deixar as coisas acontecerem e torcer bravamente que ele veja quem você é de verdade e faça suas próprias considerações. Entrega na mão do outro a melhor versão de si mesmo. Ainda que seja uma versão problemática, mais insana que o normal. Dê de beber ao outro não aquilo que ele espera, mas o que você tem a oferecer. Não se desgaste. Relacionamentos não precisam de atenção vinte e quatro horas. Alimentar sempre que necessário e checar de vez em quando, basta. É preciso dar espaço. Seres humanos, solteiros ou não, precisam de espaço, precisam de um minuto a sós consigo mesmo. É depois que os beijos cessam e você deita sozinho na cama, que a verdade revela-se. É paixão ou amor? Não entre em um relacionamento, se você não está preparado para brigar por algo bobo vez ou outra. Um copo sujo na pia pode ser motivo de uma briga que irá durar horas. Não entre em um relacionamento, se você não gostar de dividir. Dividir comida, fotos, momentos, travesseiros, festas de aniversário, reuniões de amigos, cinema. Acima de tudo, só entre em um relacionamento se houver coisas em comum. Sem isso não há sobreviventes, juro. Opostos se atraem, mas não duram. São como uma faísca. Amar requer esforço físico e mental. É preciso de dedicação. Mais dedicação do que aquele trabalho que você precisava tirar a nota máxima para passar de ano. Porque diferente do trabalho, a dedicação é contínua e não acaba depois do final do ano letivo. A menos que você queira ficar solteiro de novo.

O QUE SOBROU.

O que sobrou de você neste
Apartamento
Foram as suas roupas,
Que logo vão ser dadas,
Os seus livros,
Alguns dos quais serão meus,
Aqueles que compramos juntos,
As lembranças.
O que sobrou foram seus retratos e,
Quando vi uma foto sua, sorridente e saudável,
Lembrei-me de que não me preparei
Para a sua vinda,
Mas pude me preparar para a sua ida.
Mas quando você foi,
Ah, meu Deus!
O que sobrou?
O que sobrou
Fui eu.

Cássia Janeiro.

[passei uns dias longe, mas voltei e passarei no blog de vocês aos poucos.]

sexta-feira, 26 de abril de 2013

EU NÃO ACREDITO EM SEGUNDA CHANCE.


Eu gostaria que você pensasse duas vezes antes de sair por essa porta. Eu já te disse, mas vou repetir: um pé colocado fora e não tem mais volta. Eu quero continuar batendo nessa mesma tecla, pra que você entenda de uma vez por todas que eu não sou um cara de segundas chances. Quero que você saiba que eu não insisto no erro, que eu não dou murro em ponta de faca, e que você não vai me fazer de bobo. Eu te disse exatamente o que você encontraria quando abrisse a porta do meu apartamento. Eu te avisei sobre a sala bagunçada, a louça suja na pia da cozinha. Eu te disse que deixara as bebidas alcoólicas, porque havia decidido ser uma pessoa inteiramente sóbria, mas você insiste em querer me fazer acabar com uma garrafa de vinho toda sexta à noite. Eu não consigo acompanhar seu pique. Eu não sou de clubes noturnos, de acordar cedo para andar de bicicleta, de trilhas as seis da matina. Eu prefiro a preguiça do domingo, maratona de seriados no sábado. Nada de ressaca, dor de cabeça, estômago revirado. No dia que nos conhecemos, eu te expliquei exatamente como eu era, e como seria namorar com um cara como eu. Eu te falei dos meus defeitos, das minhas manias, das aulas de yoga, do tempo que eu perdia na frente do computador escrevendo poesia, e você achou tudo isso uma maravilha. Ainda acrescentou dizendo que eu era quem você sempre quis. E eu fingi que era a primeira vez que eu escutava essa história de destino, de alma gêmea, e achei bonito também. Eu achei bonito porque nunca considerei justo perder a fé nos outros por culpa de outras decepções. Hoje eu sei, meu erro é acreditar demais. E mesmo sabendo disso, eu continuo acreditando muito. Se eu perder esse pedaço, estou certo de que o resto estaria tentado a desabar no chão. E aí eu não seria nada mais que cacos de um alguém que desacreditou muito cedo. Eu gostaria que você parasse de dizer que eu sou muito novo, porque eu vivo musicalmente nos anos 60 e ainda não completei vinte e três anos. E que você ter chegado ao mundo quatro anos mais rápido do que eu, não te faz alguém mais experiente. Porque naquele dia que nos conhecemos, você foi bem claro quando disse que idade era o de menos, e agora usa como argumento para querer dar no pé, justo depois de ter mostrado meu lado A e B, meus discos, meus filmes preferidos, minha caneca de tomar café e minha coleção de selos. É assim que acaba? Você dizendo adeus e entrando no primeiro táxi? Ninguém deveria fazer uma crueldade dessas com outra pessoa. Ninguém deveria invadir um recinto, revirar tudo e depois sair como se nada tivesse acontecido. Deixei que você tirasse coisas do lugar que ninguém nunca antes tinha posto as mãos. Mas se é isso que você quer, não vou te obrigar a ficar. Para de pensar e dá o fora daqui.

terça-feira, 23 de abril de 2013

PODE CONFIAR EM MIM.

Eu não conheço uma só pessoa que não tenha conhecido outra que lhe tenha dito ao pé do ouvido: pode confiar em mim. E é justamente por isso que eu me sinto meio clichê quando coloco sua cabeça no meu colo e digo que você não tem nada com o que se preocupar. E não tem mesmo. Mas acho que de nada adianta eu te confirmar isso todo dia, se as informações que o teu cérebro joga contra o teu coração são de que é só mais uma pessoa tentando te fazer de idiota. Hoje em dia é mais difícil se soltar. Coloca-se luvas, porque o amor pode causar uma dolorida queimadura. Na vida, é preciso - e obrigatório - nunca se esquecer do cinto de segurança. Medo de morrer? Não. Medo de amar. Quando você encontra alguém que consegue passar como uma fita no meio do teu peito e te faz sentir como se a morte fosse algo quase impossível, trave-a, ela é única. Se confiar em alguém é uma tarefa difícil, se sentir seguro em um relacionamento é duas vezes mais. O que ele faz quando não está comigo? Confiar desconfiando, olha a que ponto nós chegamos. Vejo esposas ligando atrás de seus respectivos maridos no horário de trabalho, só para ter certeza que o mesmo está onde deveria estar. Vocês vão me dizer que isso é falta de "confiança no próprio taco". Prefiro chamar isso de consequências. Essas inseguranças são frutos de outros relacionamentos pobres com pessoas vazias. Você não pede para ser desconfiado, você é praticamente colocado contra a parede. É como se fosse algo que se instalasse sem que você pudesse fazer nada a respeito. Somos moldados a partir das escolhas que fazemos e, infelizmente, das pessoas que passam pela nossa vida, seja de uma forma bonita ou não. Seja em uma amizade curta, ou um relacionamento de cinco anos que acabou por culpa de traição. Não sei se toda essa história sobre amor e confiança servirá de alguma coisa. O que eu sei é que você não vai se colocar a inteira disposição assim da noite pro dia. Você tem todo o direito de se cuidar, de querer conhecer melhor aquele que te diz todas essas coisas e que gosta de ti mais e mais a cada minuto que passa. E eu prometo ter toda a paciência do mundo com as tuas feridas e inseguranças, contanto que você faça apenas uma coisa: quando se tratar de mim, não confie desconfiando.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

NÃO FAÇA PROMESSAS.

Foi ali, exatamente ali naquela mesa, que nós completávamos cinco dias de namoro. Você me chamou para almoçar, e eu tentei recusar o pedido alegando falta de dinheiro. Não adiantou. Chegando lá, nós pedimos uma porção de filé, arroz e salada. Dividimos uma jarra enorme de suco de goiaba, minha fruta favorita. Sua fruta favorita, também. Você me contava sobre a sua viagem para o Peru, e eu ficava encantado com o jeito como você articulava. Os detalhes entregavam que você gostava de mim, de verdade. Mas o que é uma certeza para quem está apaixonado? Vemos e sentimos aquilo que queremos, não aquilo que se é, de fato, transmitido pelo outro. Garanto que o casal da mesa ao lado, o via como uma pessoa que relata um acontecimento qualquer. Aquele sorriso enorme estampado na minha frente só existia pra mim. Para o casal, você gesticulava pouco. Na minha visão, você se levantava várias vezes da mesa para mostrar exatamente como pulava durante um show de rock. Aquilo tudo, provavelmente, era a minha expectativa que tomava uma proporção tão grande que se tornava um holograma do que eu queria, não de quem estava ali na minha frente. A pessoa que eu procurava não estava ali, não era você, mas eu não sabia, ninguém nunca sabe o tempo que dura o efeito de uma carência exacerbada. Contei para todo mundo que era a primeira vez que eu amava alguém de verdade, e não menti. Mas hoje eu sei que boa parte desse amor, era um bocado de desamor de mim. E boa parte do que tu dizias sentir, era amor pelo seu ex, que você queria porque queria redireciona-lo para outra pessoa, nesse caso, eu. Terminamos de comer. Começaram os planos, as promessas, as futuras viagens, a casa de sapê. Você disse que nós iríamos para o Peru nas suas férias do trabalho e nas minhas da faculdade. E veja bem, ainda faltavam mais de quatro meses até a metade do ano dar o ar da graça. Quase te interrompi no meio da sua promessa, mas não consegui mover os lábios, muito menos balbuciar qualquer palavra que fosse. Não deu um mês para que você fizesse tudo ao contrário. A fidelidade, o compromisso, o respeito, a ética, o caráter. Todos eles deram as mãos e se jogaram em uma enorme poça de lama. Os respingos, lógico, sobraram pra mim. Sempre sobram. Hoje eu não sei por onde você anda, nem se anda para algum lugar. Quando te conheci você estava mais perdido que o Médico, em Ensaio sobre a Cegueira. Na época, eu quis me matar pelo término. Eu quis fazer greve de fome. Eu quis desistir da faculdade. Eu sentava no chão do quarto e colocava a mesma música melancólica para repetir dezenas de vezes. E chorava dezenas de vezes. Depois que o torpor acaba, a gente só sente vergonha de si mesmo. Como eu pude ser tão dramático? Dada a circunstância atual, te digo: foi tão bom me livrar de ti. E te aconselho: por favor, não faça promessas. Esse não é o teu forte.

terça-feira, 16 de abril de 2013

AMBIENTE DE TRABALHO.

Luíza sai para ir ao banheiro e logo começaram os comentários. César falou mal do seu café. Cristina falou mal do caimento do seu vestido. Roberto disse que a achava deveras autoritária. Ana, amiga de Luíza, não jogou fermento no assunto mas também não se posicionou a respeito. Luíza volta do banheiro e um silêncio ecoa pela sala. César recolhe a sua garrafa d'água e sai para ir ao bebedouro. Luíza diz que o cheiro de chulé vem da mesa de César. Roberto concorda com a cabeça. Ana pergunta se Luíza quer sair para dar uma volta depois do trabalho. No telefone, Cristina questiona a orientação sexual de um funcionário. Rebeca entra na sala e pergunta se alguém quer carona até o centro. Todos dizem não em uníssono. Logo depois, alguém solta: essa aí só quer ser. No final do ano, estarão todos juntos brindando com uma taça de champanhe na festa da empresa.

ACREANICE.

Acordo cedo no domingo para ir ao mercado
- Quanto está o maço de alface?, pergunta meu pai.

Puxo-lhe a beira da bermuda.
- Pai, me dá dinheiro?
Saio em disparada
No bolso, o barulho das moedas ao se chocarem entre si.

- Moço, me vê um quibe e uma coca?
- Quibe de quê?
- Esse aqui ó!, respondo apontando para o quibe de macaxeira.

Na hora do almoço
Juntam-se
Tios
Sobrinhos
Filhos
Avós
Netos
O que tem de almoço? pergunto.
Cozidão, responde minha mãe.

Três tios se juntam para interar o refri

Você vai sair nessa chuva? pergunta meu pai.
Vou "mermo", respondo.

Noite de domingo
Estamos na beira do rio e todos apreciam uma boa cerveja suja
Menos eu.

- Já decidiu o que você vai querer? questiona-me a atendente.
- Um açaí, por favor.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

EU NÃO LEMBREI DE TI HOJE.

Assim que levantei, a primeira coisa que me veio a cabeça foi você. Enquanto vestia as calças, escovava os dentes, derramava os primeiros goles de café na garganta. Você. Arrumei a cama, tirei a roupa suja do cesto, lavei a louça do café da manhã, e tive vontade de te contar sobre um sonho estranho que me atormentou durante minhas quase seis horas de sono. No caminho para o trabalho, eu lembrei de você porque tocou uma música romântica no rádio, e a letra falava mais ou menos assim: "i'm happy because i found you.". Estacionei o carro próximo a uma padaria, pois ainda sentia fome. O café não havia sido suficiente. Pedi a moça que colocasse manteiga no pão, e um capuccino pra viagem. Lembrei de você porque ambos gostamos de café, e ambos tomamos várias xícaras de café na tarde do dia anterior. Dia internacional do café. Lembrei que tinha te contado no dia anterior como gosto de tomar café da manhã fora de casa, e você me disse que tínhamos esse gosto em comum. Preciso te levar nessa padaria um dia desses. Quando cheguei no trabalho, a primeira coisa que lembrei de fazer, foi em mandar uma mensagem pedindo que coma direito assim que acordar, porque você acha que está fora do peso adequado, mesmo eu te enchendo de elogios todo santo dia. Uma hora depois você me liga perguntando:
 
- Você lembrou de mim hoje, sem olhar alguma foto ou me ver estampado no fundo de tela do seu celular?
 
Não, eu não lembrei de ti hoje...

quinta-feira, 11 de abril de 2013

DESASTRE.

Você não acorda bem. Não toma um café da manhã reforçado. Engole duas ou três torradas na marra. O corpo não obedece os comandos e você acaba voltando a dormir. Alguém bate desesperadamente na porta: você vai se atrasar para o trabalho. O trabalho... o trabalho surge como algo extremamente irritante, estúpido, desgasgante. O cansaço te engasga com um nó. Você suplica por uma batida leve nas costas, mas não há ninguém por perto. Duas horas depois, coloca um copo com dois dedos de café na mesa do chefe. Ao se levantar, bate no copo com o dorso da mão, espalhando aquele líquido preto por todo o chão recém limpo. Cria-se uma poça enorme e uma metáfora da vida: basta um passo em falso.

VERÃO.

De que adiantam os verões, se os corações permanecem frios?

quarta-feira, 10 de abril de 2013

COMPAIXÃO.

Minha neta Camila estava chorando, aos soluços. Fui conversar com ela para partilhar da sua dor. Ela me explicou: "Vovô, eu não posso ver ninguém sofrer. Quando eu vejo uma pessoa sofrendo, o meu coração fica junto ao coração dela. E aí eu choro com ela...".

[ostra feliz não faz pérola, rubem alves. pág.77]

terça-feira, 9 de abril de 2013

PRAZO DE VALIDADE.

Quanto dura uma mágoa?
Trinta dias a partir da ruptura do lacre?
Quanto tempo meu coração resiste exposto fora da geladeira?
Quem determina o prazo de validade do que eu sinto não sou eu,
mas os outros.
Quando eu quero esquecer alguém,
ponho tudo fora da geladeira, e sem tampa,
de propósito.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

EQUILÍBRIO.

É difícil encontrar o equilíbrio, estabilizar a vida financeira, pessoal e profissional. Quando minha vida acadêmica anda muito bem, minha vida pessoal anda um desastre. Não cito a vida financeira, esta é sempre uma montanha-russa, ora sobra uma graninha, ora restam apenas dívidas quase que irremediáveis. Nesse caso, quando a minha vida pessoal anda ruim, eu procuro dar uma focada nela, ver o que posso fazer para reparar os danos. Não consigo estudar com o peito ardendo. Não consigo trabalhar com a cabeça cheia de memórias ruins transbordando a todo instante, sem aviso prévio. Por outro lado, sugere-se que você vá vivendo, dê tudo de si no trabalho, na faculdade, a fim de ir esquecendo das dores sem perceber. A balança está totalmente desregulada, pendendo pra um lado e para o outro em um ritmo acelerado, resultando em uma confusão interna imensa. Cara, viver pode até ser simples mas não é fácil. E eu digo isso porque divido meu dia em: oito horas de trabalho, três horas de aulas na faculdade, uma hora na academia, e mais algumas horas para namorar. Imagina se eu tivesse filhos para cuidar, por exemplo. O dia fica pequeno, e rápido, incrivelmente rápido. Agora que minha vida pessoal anda bem melhor do que antes, é a montanha-russa financeira que anda de cabeça pra baixo. A vida acadêmica também atravessa alguns problemas. Estou com sérias dificuldades para terminar meu curso de Administração. Parabenizo aqueles que conseguem encontrar o equilíbrio nessas três áreas da vida. Talvez seja costume, aprendizado. Quem sabe não sou muito imaturo para lidar com tudo isso. Talvez seja tudo uma questão de tempo. Ou, sei lá, vai ver viver é assim mesmo: nunca estar satisfeito, nunca atingir o equilíbrio.

terça-feira, 2 de abril de 2013

DIFÍCIL É ENCONTRAR ALGUÉM.

Difícil é encontrar alguém que some
n'um mar de gente que só pensa em diminuir

Difícil é encontrar alguém que te aconselhe
quando a maioria mal te ouve atentamente

Difícil é encontrar alguém fiel
quando as cercas se tornaram extremamente fragéis
e a carne absurdamente fraca

Difícil é encontrar alguém que te entenda
quando a maioria torce o nariz para as suas concepções

Difícil é encontrar alguém que saiba fazer café

Difícil é encontrar alguém que goste de filmes

Difícil é encontrar alguém que te ame de verdade

Difícil é encontrar alguém que tenha medo de te perder

Difícil é encontrar alguém com brilho nos olhos
com o choro engasgado de emoção

Difícil é encontrar alguém de confiança

Ufa!
Como foi difícil encontrar você.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

WE EKEND.

DIA UM:

- Você se sentiu forçado?
- A que?
- A ficar comigo.
- Não. Eu fiquei porque quis, porque gostei de você.
- Hum... É que, você sabe... tem duas camas, você poderia muito bem querer dormir sozinho.
- Prefiro juntar as duas de solteiro para dormirmos juntos.

/

- Você é exatamente como eu achei que fosse.
- Você também, exceto pela altura. Rs
- Sem graça!



DIA DOIS:

- Dormiu bem?
- Sim, só senti um pouco de frio. Meu nariz está irritado.
- Quer que eu desligue o ventilador?
- Não, tudo bem. Você dormiu bem?
- Sim, só dormi pouco.  Hehe
- É, eu também. rs

/

- Engraçado, já nos conhecemos há um tempão, mas nunca...
- Eu sei.
- Te conheci na mesma época que meu ex, só que...
- Eu vim depois.
- Pois é.
- Tudo tem a hora certa, né?



DIA TRÊS:

- E agora?
- Vamos tomar banho, está quase na hora de irmos pra casa.
- Não, não é isso.
- O que foi?
- Digo... e agora?
- Nós?
- Sim.
- Ah...

[...]

- Eu quero te ver mais.
- Eu também.




quarta-feira, 27 de março de 2013

(AR) MÁRIO.

Mário
22 anos de idade
Gay

Não por escolha
Não por falta do que fazer
Não por ter entrado na porta errada

Não por ter comida uma bolacha salgada
Não por ter andado em um ônibus lotado
Não por gostar de Madonna

Gay
Nada além
Nada de sobrenatural

Tímido
Gosta de café
Joga futebol
Assiste o National Geographic
É viciado em filmes de terror

Não por ser gay

Ele não anda na rua de mãos dadas com o namorado
Não o beija em público
Não encosta sua cabeça no seu ombro na sala de cinema
Para a família o apresentou como um mero amigo
O amor da sua vida
Um mero amigo
Você acredita?

Mário não quer um monumento em sua homenagem
Mário não quer esfregar a sua orientação na cara da sociedade
Mário não quer um abraço, quer respeito

Mário só quer o direito de ir e vir sem medo de ser confrontado
Ridicularizado
E por que?
Por ser gay
Por ser quem ele é

A homossexualidade nada mais é que a falta de informação
Não é uma anomalia
Um vírus
Você não contrai
Não vira da noite pro dia
Não opta

Mário é obrigado a viver em um lugar escuro
Mário permanece calado quando alguém o ofende indiretamente
Muitos vivem assim como o Mário
Angustiados
Isolados

Muitos não aguentam a falta de ar
E morrem sufocados.

Se esconder é viver uma mentira
É negar a si mesmo
Se assumir é correr risco de morte

Você que não vive esse dilema, como dorme?

PRÉDIO.

estamos em andares diferentes
você no 6ºB
eu no 10ºD
você me convida para descer
mas já passa da meia noite

você insiste

mas eu já apaguei as luzes
desliguei a tv
arrumei minha cama de solteiro
tomei minha última xícara de café
tranquei as portas e janelas

no dia seguinte
nos esbarramos no elevador
então
com uma esperança feito água no deserto
esperei que você me convidasse para jantar
almoçar
ver um filme
sei lá

depois de um silêncio agonizador
chegamos no térreo
você me desejou um bom dia seco
e foi embora.

ROTINA.

acordo
tomo banho
preparo meu café da manhã
abro a caixa de cereal
despejo leite no copo
escovo os dentes
visto a cueca
a calça
a camisa
penteio o cabelo
passo perfume

te encontro
você me amassa
tira minha camisa
a calça
a cueca
despenteia meu cabelo
beija-me a boca
prepara nosso café da manhã

eu te sirvo
você me serve
e a gente se ama.

DIZEM.

Amor não dá lucro.
Amor é prejuízo irreversível.
Amor é saudade sem ponto final.
Amor é sinônimo de dor
Antônimo de pôr-do-sol

Amor é a fusão de duas cores
Cores que às vezes não se misturam
Amor é um risco
Uma queda livre
Um impulso no ar

Amor é uma aposta
nem todo mundo quer arriscar.

terça-feira, 26 de março de 2013

in DIRETAS.

a verdade é que eu queria poder te chamar sempre que eu te quisesse por perto. e eu chamo, mas você não responde. infelizmente, não posso exigir nada na situação atual que nos encontramos. infelizmente, não somos nós. você ainda é você, e eu ainda sou eu. separados. ora, como dois íntimos. ora, como dois desconhecidos que nunca se viram na vida. a verdade é que eu queria saber por onde você anda. em que lugares da cidade ficam a marca da sola dos teus sapatos. tenho medo de que seja na casa de outro. até o meu silêncio, se pudesse falar, gritaria teu nome. se houver outro personagem nessa história, estamos fadados ao fracasso. você não, eu. o vejo passando do outro lado da rua, virando a esquina, tenho vontade de chamar sua atenção, mas não faço nada. te vejo como um animal arredio, espancado pela vida, com medo de deixar alguém se aproximar. se eu resolver apertar o passo, certeza que você foge. já disse que pode confiar em mim. vou permanecer aqui esperando por uma ligação, uma carta, um sinal. só não sei até quando.
você demora pra pôr a roupa
o sapato
arrumar o cabelo
ligar o carro
tirar o carro da garagem

demorou meses até dizer que me amava
que queria morar comigo
que eu era o homem da sua vida

e na primeira tempestade
no primeiro empurrão
na primeira esquina
no primeiro quebra mola

você se despede de mim
como se eu não fosse nada.
dos clichês do fim de um relacionamento: a gente ainda pode ser amigo.
mas se você quiser
eu largo meu emprego
a faculdade
as aulas de tango
vendo minhas telas
minhas roupas
meus sapatos
minhas cuecas
trabalho doze horas por dia
não compro mais livros
suplementos alimentares
recorro a empréstimos com bancos
financeiras
amigos próximos
distantes
mas se você não quiser
fazer o que?
fico onde estou e ponto final.

quarta-feira, 20 de março de 2013

sexo.


Sigo correndo, batendo em portas que não abrem. A chuva batendo agressivamente no meu corpo. Enquanto isso, homens e mulheres se atracam nos seus quartos feito lobos, arranhando a pele do outro, devorando cada centímetro de sentimento que impulsiona o encontro desses corpos. No quarto, há uma criança chorando atrapalhando o sexo dos pais recém-casados. Na sala, a TV está fingidamente ligada, enquanto o sofá é campo de batalha entre os dois rapazes que se conheceram na estação de trem. No quarto de hotel, um comissário de bordo e um estudante de engenharia elétrica. Ele passa pelo saguão acompanhado do estranho, mas ninguém pede identificação. Não há um ser vivo na portaria. Três lances de escada. A criança só para de chorar quando encontra abrigo no colo do pai, enquanto a mãe veste lentamente a camisola e se prepara para dormir, de novo, sem ter desfrutado até o final da sua lua de mel. Ela pega o livro na cabeceira da cama e começa a ler enquanto o marido não volta. Desligam a TV. Ele joga a almofada no chão, e o outro lhe arranca as bermudas. A mão por dentro da cueca. A mão na nuca. A língua adentrando o mais fundo da garganta. Um desespero por um sexo bem feito, um desespero por um sexo melhor do que o da noite passada. Agora ele não quer mais saber de amar ninguém, só quer fuder, fuder, fuder, fuder. O comissário passa o cartão na porta do quarto, e os dois entram. Pode se sentar, fique à vontade, diz ele. Timidamente, o estudante se senta. A TV está ligada. Os Simpsons. O outro se senta ao seu lado. Os dois ficam um tempo se olhando. As pernas unidas salientando uma timidez difícil de ser escondida. O comissário sorri. Os dentes são incrivelmente brancos. Agora, o estudante olha o outro mais atentamente. Alguns fios brancos, o rosto afilado, a voz absurdamente linda. Sardas nos ombros, camiseta regata, bermuda. A cueca rosa. Os olhos verdes. Os cabelos curtos e lisos. Não há mais silêncio no quarto. Desligam a TV. O bebê finalmente dorme. Não há mais barulho, mas, infelizmente, a mulher caiu no sono. O marido passa pelo quarto e vai até o banheiro. Apoia a mão esquerda na parede, abre o vaso sanitário, bate punheta, goza, dá descarga e volta pra cama. A mulher lhe abraça e os dois dormem profundamente. Do sofá para o chão da sala, da sala para a cozinha. Um sentado em cima do balcão e o outro em pé. Um colocando expectativas altas naquele sexo descompromissado, e o outro pensando no próximo que irá colocar naquele mesmo balcão na noite seguinte. Um sempre acredita mais, e se fode. Um sempre espera menos, e se surpreende. Um deles vai terminar a noite se lamuriando para o melhor amigo. O outro vai pedir uma pizza e ir dormir. Uma hora depois eles cruzam novamente o saguão com um sorriso imenso no rosto. Não sabem quando irão se ver de novo, tampouco se chegarão a se encontrar novamente, mas, definitivamente, aquela noite no hotel nunca será esquecida.

terça-feira, 12 de março de 2013

Volta aqui.


Volta aqui, não vira esse rabo na minha direção e me deixa falando sozinho com as paredes. Não vá embora como se eu fosse o único culpado dessa merda que escorre pelo teto nas nossas cabeças. Não me deixe falando com esse seu cabelo longo que já percorreu tantos pedaços virgens do meu corpo. Virgens até o dia em que você pintou na minha vida. Pena que no meio do caminho você decidiu bordar. Enfiara a agulha por dentro das minhas veias, deixou que meu sangue jorrasse na sua cara. Você ria. Riso alto, riso de cuspir na minha cara, como se nada estivesse acontecendo, como se nós ainda fôssemos os mesmos daquele primeiro encontro em um restaurante japonês. Agora é tarde para dizer que você foi forçada a comer aquelas “porcarias naturais”, que é como você chamava quando eu virava as costas. Você encenando, achando que eu não sabia que você falava mal dos meus perfumes amadeirados, cítricos. Eu sabia Ana, eu sabia que quando eu saía por aquela porta você convidava rapazes para adentrar nosso apartamento e os deixava montar em cima de ti como se fosse uma cabrita no cio. Aposto que urrava mais do que urrava comigo. Aposto que usava algemas, chicotes e calcinhas comestíveis. Que nojo que eu tenho de você. Quando eu chegava, lá vinha você toda serelepe com uma camisolinha de seda clara, tão clara que dava de ver os bicos do seu peito me convidando para uma transa às dez e meia da noite de uma quinta-feira chuvosa. Silenciosa, com o corpo curvado em cima do meu, as nádegas batendo nas minhas coxas, e os cabelos estáticos. Dois coelhos em fase terminal, e nem sequer sabíamos disso. Talvez você, mas eu não. Nunca suspeitei que você usava meu cartão de crédito para sacar dinheiro e ir para motéis com um bando de leprosos que eu nunca terei o desprazer de conhecer. Ou não. Vai ver é um amigo meu da firma. Vai ver um desses caras com quem você trepa enquanto eu ganho dinheiro para pagar suas bolsas de marca, seja justamente o mais simpático do setor, aquele que leva café na mesa, que sorri de um jeito tímido, mas que lá no fundo, lá no fundo da alma, esmurra paredes com raiva toda vez que o chefe diz que o relatório precisa ser refeito mais uma vez porque ficou um desastre. Bate a própria cabeça na mesa. Eu te queria mais do que os malditos livros que compro todo mês. Eu te queria mais do que café quentinho na cama aos sábados pela manhã. Eu te queria mais do que a morte em filme de assombração. Eu te queria por dentro, por fora, do avesso, banhada em chocolate, retorcida, partida no meio. Eu te queria de qualquer jeito, desde que você fosse minha, só minha. Mas você escolheu seu caminho. Bem feito, Ana. Essas doenças que você despeja em desavisados foram a praga que eu nunca te desejei em silêncio, mas que hoje sinto remorso por não ter feito parte desse ensejo. Eu apenas desejei que você pagasse na mesma moeda. Eu sempre desejo isso a quem me faz mal, mentira seria se eu dissesse “muito obrigado” a cada mulher que já tentou foder a minha vida. Se todo mundo pagasse pelos erros que cometem, ao invés de serem pessoas ainda mais felizes, esse mundo não estaria do que jeito que está, escabroso, medíocre. Se cada um colhesse realmente aquilo que enfia em terra fértil, não haveriam desajustados. E eu - certamente - não teria conhecido você.