terça-feira, 12 de março de 2013

Volta aqui.


Volta aqui, não vira esse rabo na minha direção e me deixa falando sozinho com as paredes. Não vá embora como se eu fosse o único culpado dessa merda que escorre pelo teto nas nossas cabeças. Não me deixe falando com esse seu cabelo longo que já percorreu tantos pedaços virgens do meu corpo. Virgens até o dia em que você pintou na minha vida. Pena que no meio do caminho você decidiu bordar. Enfiara a agulha por dentro das minhas veias, deixou que meu sangue jorrasse na sua cara. Você ria. Riso alto, riso de cuspir na minha cara, como se nada estivesse acontecendo, como se nós ainda fôssemos os mesmos daquele primeiro encontro em um restaurante japonês. Agora é tarde para dizer que você foi forçada a comer aquelas “porcarias naturais”, que é como você chamava quando eu virava as costas. Você encenando, achando que eu não sabia que você falava mal dos meus perfumes amadeirados, cítricos. Eu sabia Ana, eu sabia que quando eu saía por aquela porta você convidava rapazes para adentrar nosso apartamento e os deixava montar em cima de ti como se fosse uma cabrita no cio. Aposto que urrava mais do que urrava comigo. Aposto que usava algemas, chicotes e calcinhas comestíveis. Que nojo que eu tenho de você. Quando eu chegava, lá vinha você toda serelepe com uma camisolinha de seda clara, tão clara que dava de ver os bicos do seu peito me convidando para uma transa às dez e meia da noite de uma quinta-feira chuvosa. Silenciosa, com o corpo curvado em cima do meu, as nádegas batendo nas minhas coxas, e os cabelos estáticos. Dois coelhos em fase terminal, e nem sequer sabíamos disso. Talvez você, mas eu não. Nunca suspeitei que você usava meu cartão de crédito para sacar dinheiro e ir para motéis com um bando de leprosos que eu nunca terei o desprazer de conhecer. Ou não. Vai ver é um amigo meu da firma. Vai ver um desses caras com quem você trepa enquanto eu ganho dinheiro para pagar suas bolsas de marca, seja justamente o mais simpático do setor, aquele que leva café na mesa, que sorri de um jeito tímido, mas que lá no fundo, lá no fundo da alma, esmurra paredes com raiva toda vez que o chefe diz que o relatório precisa ser refeito mais uma vez porque ficou um desastre. Bate a própria cabeça na mesa. Eu te queria mais do que os malditos livros que compro todo mês. Eu te queria mais do que café quentinho na cama aos sábados pela manhã. Eu te queria mais do que a morte em filme de assombração. Eu te queria por dentro, por fora, do avesso, banhada em chocolate, retorcida, partida no meio. Eu te queria de qualquer jeito, desde que você fosse minha, só minha. Mas você escolheu seu caminho. Bem feito, Ana. Essas doenças que você despeja em desavisados foram a praga que eu nunca te desejei em silêncio, mas que hoje sinto remorso por não ter feito parte desse ensejo. Eu apenas desejei que você pagasse na mesma moeda. Eu sempre desejo isso a quem me faz mal, mentira seria se eu dissesse “muito obrigado” a cada mulher que já tentou foder a minha vida. Se todo mundo pagasse pelos erros que cometem, ao invés de serem pessoas ainda mais felizes, esse mundo não estaria do que jeito que está, escabroso, medíocre. Se cada um colhesse realmente aquilo que enfia em terra fértil, não haveriam desajustados. E eu - certamente - não teria conhecido você. 

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