quarta-feira, 20 de março de 2013

sexo.


Sigo correndo, batendo em portas que não abrem. A chuva batendo agressivamente no meu corpo. Enquanto isso, homens e mulheres se atracam nos seus quartos feito lobos, arranhando a pele do outro, devorando cada centímetro de sentimento que impulsiona o encontro desses corpos. No quarto, há uma criança chorando atrapalhando o sexo dos pais recém-casados. Na sala, a TV está fingidamente ligada, enquanto o sofá é campo de batalha entre os dois rapazes que se conheceram na estação de trem. No quarto de hotel, um comissário de bordo e um estudante de engenharia elétrica. Ele passa pelo saguão acompanhado do estranho, mas ninguém pede identificação. Não há um ser vivo na portaria. Três lances de escada. A criança só para de chorar quando encontra abrigo no colo do pai, enquanto a mãe veste lentamente a camisola e se prepara para dormir, de novo, sem ter desfrutado até o final da sua lua de mel. Ela pega o livro na cabeceira da cama e começa a ler enquanto o marido não volta. Desligam a TV. Ele joga a almofada no chão, e o outro lhe arranca as bermudas. A mão por dentro da cueca. A mão na nuca. A língua adentrando o mais fundo da garganta. Um desespero por um sexo bem feito, um desespero por um sexo melhor do que o da noite passada. Agora ele não quer mais saber de amar ninguém, só quer fuder, fuder, fuder, fuder. O comissário passa o cartão na porta do quarto, e os dois entram. Pode se sentar, fique à vontade, diz ele. Timidamente, o estudante se senta. A TV está ligada. Os Simpsons. O outro se senta ao seu lado. Os dois ficam um tempo se olhando. As pernas unidas salientando uma timidez difícil de ser escondida. O comissário sorri. Os dentes são incrivelmente brancos. Agora, o estudante olha o outro mais atentamente. Alguns fios brancos, o rosto afilado, a voz absurdamente linda. Sardas nos ombros, camiseta regata, bermuda. A cueca rosa. Os olhos verdes. Os cabelos curtos e lisos. Não há mais silêncio no quarto. Desligam a TV. O bebê finalmente dorme. Não há mais barulho, mas, infelizmente, a mulher caiu no sono. O marido passa pelo quarto e vai até o banheiro. Apoia a mão esquerda na parede, abre o vaso sanitário, bate punheta, goza, dá descarga e volta pra cama. A mulher lhe abraça e os dois dormem profundamente. Do sofá para o chão da sala, da sala para a cozinha. Um sentado em cima do balcão e o outro em pé. Um colocando expectativas altas naquele sexo descompromissado, e o outro pensando no próximo que irá colocar naquele mesmo balcão na noite seguinte. Um sempre acredita mais, e se fode. Um sempre espera menos, e se surpreende. Um deles vai terminar a noite se lamuriando para o melhor amigo. O outro vai pedir uma pizza e ir dormir. Uma hora depois eles cruzam novamente o saguão com um sorriso imenso no rosto. Não sabem quando irão se ver de novo, tampouco se chegarão a se encontrar novamente, mas, definitivamente, aquela noite no hotel nunca será esquecida.

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