terça-feira, 26 de agosto de 2014

Você.

- Nossa...
- O que foi?
- Você.
- Eu? O que tem eu?
- É que...
- Fala, estou começando a ficar assustado.
- Não, não é pra assustar. É coisa boa. Você gosta de coisas boas, não gosta?
- Gosto. Anda, fala logo, você tá me enrolando.
- Estou não. O que eu quero dizer é que eu me sinto incrivelmente bem quando falo com você.
- Você poderia ter sido mais direto. Teria me assustado menos. Jurei que você iria dizer o contrário.
- Nunca. Se eu tirasse um dia de folga, eu gostaria de passa-lo inteirinho ouvindo você me contar suas histórias. Não tem nada que me deixe mais feliz do que isso.
- Isso o quê?
- Isso tudo. Nós dois.
- É engraçado, não é?
- Nós dois?
- Não. A vida. Me colocar no teu caminho e vice-versa.
- Vice-versa... Com a gente é vice-versa, não é?
- Claro que é.
- Eu sei. Tinha certeza que era.

-

- Tá tarde... eu tenho que ir.
- Mas já? Tá cedo.
- Não, já são mais de onze da noite. Amanhã a gente trabalha cedo.
- É. Que pena.
- Mas amanhã eu volto.
- Volta?
- Volto.
- Promete?
- Prometo!

domingo, 24 de agosto de 2014

Você está perdendo (meu) tempo.


Você está perdendo seu tempo.
E o meu.
Indo,
Voltando.
Sem se decidir se vai,
ou se fica.
Sem saber quem,
ou o que quer.
Sem saber se vira à esquerda,
ou à direita.
Você não quer nada.
Você não me quer.
Mas você não coloca as cartas na mesa.
Eu viro uma.
Esperança.
Quem espera sempre alcança.
Às vezes não.
Não vou esperar.
Não vou cruzar meus braços e esperar você se decidir.
Também não vou correr atrás de você,
mais uma vez,
apertar a campainha e dar de cara com ninguém.
De novo.
Porque você até chega a dizer: vem, vem aqui que eu preciso de você.
Aí eu chego, dirigindo o mais depressa possível, só para ouvir pelo interfone:
ele não está, acabou de sair.
Sendo assim, deixa que eu decido pela gente:
eu saio,
você fica.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Cara, você é tão ingênuo.


- É sério, eu pensei que ele queria algo de verdade.
- Ai, Caio... Você, às vezes, é tão ingênuo.
- O papo estava ótimo, na verdade, muito bom. Aí ele pediu uma foto.
- E você?
- Eu mandei. Eu mandei uma foto minha lendo meu livro predileto. Eu esperava que ele dissesse que era o livro predileto dele também, ou que fosse pedir emprestado.
- E ele?
- Ele não disse nada a respeito de mim, ou do livro.
- Depois disso ele não falou mais nada?
- Falou, Ana. Ele pediu uma foto minha sem roupa.
- Nossa!
- Pois é... Estou fadado a ser o fracassado dos relacionamentos.
- Calma andorinha, tua hora vai chegar.
- Vai nada. Eu fico com inveja de você com o Jorge. Não paro de olhar aquela foto das alianças que ele te deu quando vocês fizeram dois anos que já se conheciam. O buquê que ele mandou entregar no seu trabalho. Parece tão clichê... Talvez fosse há uns anos atrás, hoje isso é raro. Dar flores é uma coisa rara. Amar, amar de verdade, é raro. Você não sabe a sorte que tem, Ana.
- É verdade. Mas eu sei sim, Caio. Eu fico te vendo aí querendo alguém pra crescer contigo. Eu já estive na mesma situação que você, não te esquece disso.
- Já? Nem lembro disso, já faz tanto tempo. Eu sou muito ingênuo. Sempre espero o melhor dos outros. Sempre espero a ligação do dia seguinte. Sou tradicional. Quero jantares, filmes e passeios antes do primeiro beijo. Semanas e mais semanas antes da primeira transa. Quero me sentir a vontade com alguém, de uma forma que o silêncio não seja constrangedor. Essas coisas não existem mais. Pessoas assim não existem mais. Foram extintas, igual os dinossauros.
- Os valores estão mudando, Caio.
- Infelizmente, Ana. Sinto falta da época que pessoas não eram descartáveis.
- É... bons tempos!

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Borboletas?

- Ana, você está bem?
- Não, digo, não sei. Estou, eu acho. Por que pergunta?
- Nada, é que... você não tocou na comida.
- Eu estou sem fome. Na verdade, estou com fome mas estou pensando em mil coisas.
- Mil?
- Ok, uma.
- É o carinha da lanchonete?
- Não.
- É, não é?
- Ok, é.
- Ana, ana... você não disse que ia dar um tempo nos relacionamentos?
- Mas quem disse que estou em um relacionamento?
- Não disse que era um relacionamento sério, Ana. Mas a partir do momento que você está conhecendo alguém, podemos caracterizar isso como um relacionamento.
- Pareceu sério você falando dessa forma.
- Não precisa ser sério, precisa ser sincero. Concorda?
- Sim, claro. Bem... não cheguei a pensar nisso. Ok, pensei sim.
- E o que você pensou?
- Ah, sei lá, eu não me sentia bem assim há um tempinho.
- Nem com o Jorge?
- Não. Você sabe como esse relacionamento foi um tanto quanto desgastante.
- Eu sei.
- Pois é.
- É bom ver você assim. Parece feliz.
- Eu tô. Esse que é o problema. Não queria estar. Isso está me tirando o foco das coisas, e eu nem sei se é recíproco. Ontem eu passei lá pra dar um oi, puxei assunto e nada. Ele foi ríspido. Aí eu pensei que não iria dar em nada e fiquei na minha. Algumas horas depois ele liga dizendo que quer me ver. Você consegue entender isso?
- Sinceridade? Não, rs. Confesso até que deu um nó na minha cabeça.
- Eu fico esperando uma atitude devido os "sinais" que eu recebo, e daí acontece algo totalmente diferente.
- Que situação...
- Nem me fala.
- Mas... você acha que as borboletas voltaram?
- Talvez. E se voltaram, não creio que seja dessa vez que elas irão voar por muito tempo.
- Calma, Ana... calma.

sábado, 9 de agosto de 2014

Convites.

Acredito que não seja tão difícil arranjar alguém, quando se tem segundas intenções em mente. Pessoas pra uma noite só tem aos montes. Vamos beber? Talvez você acabem transando, talvez não. Agora, não tem nada que cheire mais a sexo do que um convite pra assistir um filme. Claro, não vamos generalizar. Mas é verdade, não é? E ainda tem aquelas pessoas que falam sem rodeios exatamente o que querem fazer. EU QUERO TRANSAR. Ok, entendi. A única dúvida que fica quando você sai de casa é: será que vai ser bom? Vai acontecer, e você já sabe previamente disso. Bem, longe de mim ver qualquer problema nisso. Se o corpo pede, e sua memória não vai te trazer nenhum remorso no dia seguinte, vá em frente. Mas, confesso: é muito mais interessante quando o convite não atiça a nossa imaginação e a gente fica com aquele nervosismo de principiante sem saber o que vai acontecer. Qualquer coisa que aconteça nessa noite vai ser totalmente inesperada. Assim como qualquer coisa que por ventura também não venha a se concretizar. Difícil, difícil mesmo é receber um convite pra dançar. É receber um convite sem qualquer conotação sexual. É ser chamado pra jantar em um restaurante, chegar meia hora antes só pra garantir que você não vai se atrasar. Um convite para comer um sanduíche na praça. Tomar um açaí. Um sorvete. Assistir um filme. E ASSISTI-LO. Debatê-lo ao final do mesmo. Raro é um convite desses não terminar na cama, ou quem sabe terminar na cama, mas com os dois virados de frente um pro outro contando intimidades que ninguém mais sabe. Ouvir da outra pessoa que é meio cedo e que vocês mal se conhecem. Perceber que por mais simples que seja a história que está sendo contada, os olhos da outra pessoa não desviam um só segundo dos seus. Melhor coisa do mundo é ir conhecendo o outro aos centímetros, deixar o desejo ir aumentando com o passar dos dias. Sem ânsia, como se o mundo pudesse acabar a qualquer minuto. Mas sabendo dosar, pra não parecer desinteressado. É... depois ninguém sabe por que eu só vivo dizendo não. 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Surpresa!

Vai lá, ele é o cara da tua vida. Sério. Fala com ele. Nossa, olha lá, ele faz teu tipo, não faz? Vai fundo. Eu sinto, é ele. Só pode ser ele. Vira. Vira pra lá que ele acabou de virar pro lado de cá. Nossa, quase que ele te pega olhando pra ele. Já. Olha. Ele não tá olhando não. Sério. Viu? Ele tem as mesmas características que você descreveu pra mim há umas duas semanas atrás. Não é coincidência. É destino. Não é todo dia que a gente conhece o amor da nossa vida em um supermercado. Vai, fala com ele, por favor, por mim, não desperdiça isso porra, anda logo, ele vai já embora. Ele está indo no caminho do caixa, já era, esquece, não dá mais tempo. Droga. A mãe dele acabou de se aproximar. Vai ter que flertar com ele na frente dela. Vai assim mesmo. Calma, toma coragem. Pronto. Volta, volta, volta. Espera. Ele tá vindo sozinho. Ali. Ali, caramba, naquela direção, na sessão de produtos naturais. Eca, vocês se parecem mesmo. Parece que ele malha, você viu? Viu, viu sim. Agora é tua chance. Anda. E aí? E esse sorriso? Sério? Ele te deu o número dele? Ah, não. Você deu o número, então? Não disse que ia dar certo? Isso, pode gritar. Se não fosse eu na tua vida, teria perdido essa chance.

Foi mal. Não tenho culpa. É que... é que... ele me pareceu tão bom daquele ângulo. Tão... tão cheio de qualidades. A gente erra sabia, Caio? Vocês só se viram sete vezes durante quatro meses? Que horror! E foi ele quem te pediu em namoro? Jura? Ele? Não foi você? Às vezes você esquece das coisas. Tá. Desculpa, claro que acredito em ti. Que canalha! Mas eu jurava que era ele o cara certo pra ti. Nossa, essa de você pegar ele transando com outra pessoa é demais. Ainda disse que a culpa era sua? Bem, pelo menos ele inovou né. Brincadeira. É que geralmente a gente espera ouvir um pedido de desculpa. Deve ter sido horrível. É que de longe ele parecia um anjo. Se eu soubesse, juro pra ti, teria feito outra coisa... sei lá, mandado tocar fogo no supermercado com ele dentro, só pra você não ter que passar por isso. Mas você aprendeu alguma coisa, não aprendeu? É... a gente sempre aprende.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Então é isso.



Você entra, calado, quieto, desconfiado, senta no canto do quarto. Eu te acompanho, calado, quieto, desconfiado, sento longe de você. Ninguém diz uma palavra. Ninguém abre a boca. Por cinco, dez, quinze minutos... Até que você resolve murmurar alguma coisa. Eu não entendo. Você aumenta o som da sua voz. Eu respondo que não, que não tenho nada a dizer. E eu não tinha. Eu sei. Você sabe. Era a coisa certa a se fazer. Eu não consegui ir atrás de você. Permaneci no mesmo lugar, imóvel, como se fingisse pra mim mesmo que nada daquilo estava acontecendo. Foi como se eu colocasse meu coração contra a parede e dissesse: não sinta nada. E eu não senti. Deixei que o trabalho, o estudo, todas as responsabilidades controlassem a minha vida, de tal forma que não fosse possível pensar em mais nada. Talvez assim fosse mais fácil. E foi. Vinha sendo. De repente, foi como se a ficha tivesse caído, entende? Faz sentido, porque eu ainda não tinha me permitido derramar uma lágrima sequer. Acho que por receio de não querer parecer fraco pra mim mesmo. Por mais que eu saiba e tenha certeza, que era assim que tinha que ser, mesmo assim, mesmo com toda essa aceitação, ainda dói. E dói pra caramba. Como se alguém espremesse todos os meus órgãos, um por um e bem lentamente. Toda despedida é dolorosa. Todo rompimento é difícil. É ainda pior porque você se vê só. De novo. Olha em volta e não vê mais nada. Ninguém. É como se você acordasse no dia seguinte em um lugar totalmente diferente, sem saber como foi parar lá. Mas é a mesma cama, a mesma vidraça, a mesma janela, o mesmo lençol. Não, não é a mesma coisa. Não é a mesma vida. Não é a mesma rotina. É tudo completamente diferente. Você é outra pessoa. Eu sou outra pessoa. Não somos dois estranhos, mas não somos mais o que éramos ontem. E sabe o que mais me assusta nesse mundo novo? É que eu me sinto inseguro, de novo.