sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Cara, você é tão ingênuo.


- É sério, eu pensei que ele queria algo de verdade.
- Ai, Caio... Você, às vezes, é tão ingênuo.
- O papo estava ótimo, na verdade, muito bom. Aí ele pediu uma foto.
- E você?
- Eu mandei. Eu mandei uma foto minha lendo meu livro predileto. Eu esperava que ele dissesse que era o livro predileto dele também, ou que fosse pedir emprestado.
- E ele?
- Ele não disse nada a respeito de mim, ou do livro.
- Depois disso ele não falou mais nada?
- Falou, Ana. Ele pediu uma foto minha sem roupa.
- Nossa!
- Pois é... Estou fadado a ser o fracassado dos relacionamentos.
- Calma andorinha, tua hora vai chegar.
- Vai nada. Eu fico com inveja de você com o Jorge. Não paro de olhar aquela foto das alianças que ele te deu quando vocês fizeram dois anos que já se conheciam. O buquê que ele mandou entregar no seu trabalho. Parece tão clichê... Talvez fosse há uns anos atrás, hoje isso é raro. Dar flores é uma coisa rara. Amar, amar de verdade, é raro. Você não sabe a sorte que tem, Ana.
- É verdade. Mas eu sei sim, Caio. Eu fico te vendo aí querendo alguém pra crescer contigo. Eu já estive na mesma situação que você, não te esquece disso.
- Já? Nem lembro disso, já faz tanto tempo. Eu sou muito ingênuo. Sempre espero o melhor dos outros. Sempre espero a ligação do dia seguinte. Sou tradicional. Quero jantares, filmes e passeios antes do primeiro beijo. Semanas e mais semanas antes da primeira transa. Quero me sentir a vontade com alguém, de uma forma que o silêncio não seja constrangedor. Essas coisas não existem mais. Pessoas assim não existem mais. Foram extintas, igual os dinossauros.
- Os valores estão mudando, Caio.
- Infelizmente, Ana. Sinto falta da época que pessoas não eram descartáveis.
- É... bons tempos!

Um comentário:

  1. Oi João,
    Gostei muito do texto.
    Eu também sinto falta da época
    das amizades com raíz.
    beijos

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