terça-feira, 28 de maio de 2013

TARDE DEMAIS.

Agora é tarde demais para voltar atrás. Não há um jeito de devolver uma flor ao seu local de origem. É assim com as oportunidades, com os amores da vida. Não adianta se debruçar, colocar o lençol sobre o rosto e espernear quando o sol começa a entrar pelas frestas da janela. Acorda. Não tem outra chance. Dessa vez, infelizmente, não. Dançamos o que tínhamos para dançar. Fomos à feira no domingo. Dividimos taças e mais taças calóricas de sorvete de creme. Não haverão mais almoços aos sábados. Nossas mãos sujas de sobremesa. Eu enxáguo e você enxuga. Agora sou eu quem passa o aspirador de pó pela casa toda. Lavo e enxugo os pratos. Faço minhas próprias refeições. Eu disse que uma hora o tempo de correr atrás acabaria. Tic tac. Eu avisei. Mais de uma vez. Enquanto chovia, enquanto assistíamos televisão, enquanto você corria na esteira, enquanto discutíamos. E você, ah, você não deu a mínima. Sempre achou que conseguiria sobreviver muito bem sozinha. Sempre achou que eu não conseguiria superar as tuas expectativas, ser melhor que o seu ex. Eu nunca disse que te daria um relacionamento perfeito. Ofereci minhas mãos, meu colo, meu carinho, minhas preces, minhas músicas preferidas, meus vícios, minhas neuras, meus sacrifícios, meus contratempos, meus desastres, meu amor. Nada disso era suficiente. O que te fez mudar de ideia? O que fez você vir até aqui em plena madrugada e começar a chorar na minha frente? Sabe quem está lá dentro agora? Você sabe? Alguém que ainda não conheceu metade do que eu te ofereci, e consegue viver (muito) bem aqui comigo. Não foram horas, dias, meses, Ana. Foram anos. Anos da minha vida tentando fazê-la acreditar que eu era um cara de flores, bombons e todos aqueles clichês românticos. Quer dizer que você estava perdida? Essa foi a razão pra você ter terminado comigo através de um bilhete, depois de eu achar que, sei lá, você estivesse morta? A porra de um bilhete que eu achei embaixo da cama, provavelmente arrastado para lá por culpa do vento. O mais estranho disso tudo é que agora eu te olho dos pés a cabeça, e não te reconheço. Se você pensou que esse era o lugar onde você iria se encontrar, sinto te informar, é tarde demais.

domingo, 19 de maio de 2013

ESFORÇO FÍSICO E MENTAL.

Estar em um relacionamento é uma estrada difícil. O ciúme cria sensações nunca sentidas antes quando solteiro. O perigo está em todos os cantos. E existe de todas as formas possíveis, imprevisíveis e impossíveis. Medo do outro acordar no dia seguinte e achar que tudo foi um erro, perca de tempo. Medo de estar confiando e sofrer a maior decepção, um tombo sem volta, uma ferida para fazer companhia a tantas outras, cuja as mesmas já estão sendo vagarosamente estancadas. Esforço-me diariamente para ser aquele que o outro espera. Fisicamente, mentalmente. Não desejo mais do que belos dias para nós dois. Diálogos amorosos. Confiança indestrutível. Quero que sejamos um desses casais inabaláveis, independente de qualquer circunstância. Infelizmente, as experiências anteriores acabam deixando marcas irreparáveis. Sempre com um pé atrás. Sempre com receios e medos. Medo de olhar embaixo da cama e encontrar o bicho papão. Chega uma hora que você cansa de pedir ao outro que confie em você. É melhor deixar rolar. Deixar as coisas acontecerem e torcer bravamente que ele veja quem você é de verdade e faça suas próprias considerações. Entrega na mão do outro a melhor versão de si mesmo. Ainda que seja uma versão problemática, mais insana que o normal. Dê de beber ao outro não aquilo que ele espera, mas o que você tem a oferecer. Não se desgaste. Relacionamentos não precisam de atenção vinte e quatro horas. Alimentar sempre que necessário e checar de vez em quando, basta. É preciso dar espaço. Seres humanos, solteiros ou não, precisam de espaço, precisam de um minuto a sós consigo mesmo. É depois que os beijos cessam e você deita sozinho na cama, que a verdade revela-se. É paixão ou amor? Não entre em um relacionamento, se você não está preparado para brigar por algo bobo vez ou outra. Um copo sujo na pia pode ser motivo de uma briga que irá durar horas. Não entre em um relacionamento, se você não gostar de dividir. Dividir comida, fotos, momentos, travesseiros, festas de aniversário, reuniões de amigos, cinema. Acima de tudo, só entre em um relacionamento se houver coisas em comum. Sem isso não há sobreviventes, juro. Opostos se atraem, mas não duram. São como uma faísca. Amar requer esforço físico e mental. É preciso de dedicação. Mais dedicação do que aquele trabalho que você precisava tirar a nota máxima para passar de ano. Porque diferente do trabalho, a dedicação é contínua e não acaba depois do final do ano letivo. A menos que você queira ficar solteiro de novo.

O QUE SOBROU.

O que sobrou de você neste
Apartamento
Foram as suas roupas,
Que logo vão ser dadas,
Os seus livros,
Alguns dos quais serão meus,
Aqueles que compramos juntos,
As lembranças.
O que sobrou foram seus retratos e,
Quando vi uma foto sua, sorridente e saudável,
Lembrei-me de que não me preparei
Para a sua vinda,
Mas pude me preparar para a sua ida.
Mas quando você foi,
Ah, meu Deus!
O que sobrou?
O que sobrou
Fui eu.

Cássia Janeiro.

[passei uns dias longe, mas voltei e passarei no blog de vocês aos poucos.]