segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Vai!


Vai, mas vai logo, vai antes que eu sinta sua falta. Vai antes que eu me meta na frente da porta e só saia quando ouvir a sirene da polícia tocando na beira da calçada. Pega tuas coisas, me promete que não vai esquecer nada. A pasta de dente, a escova de cabelo, as roupas, a última feira que ainda não foi colocada na geladeira, leva qualquer coisa que tenha teu nome, que me lembre que você exista. Vai, mas vai logo, vai antes que teu perfume comece a impregnar pela casa inteira. Só Deus sabe o trabalho que vou ter pra poder tirar o teu cheiro de tudo. Dos lençóis, das minhas roupas, da minha pele. Não esquece dos cds, dos presentes, é sério, eu não quero que fique nada. Aquela tua camisa que eu adoro vestir no final de semana, pode levar ela também. Enfia tudo na sua mala azul, nessa sua maldita mala azul e segue teu rumo. Encontra outro lugar pra morar bem longe de mim, e reza pra gente não se esbarrar por aí tão cedo. Me dá um tempinho até eu processar tudo. Me dá alguns segundos só pra eu cair na real. Não, não, alguns segundos não. Me dê alguns meses. Isso, meses. Vou precisar de meses até passar pelas quatro fases do término: enlouquecimento, ajuste forçado, pseudo superação e o tão esperado "quer saber? foda-se". E, se por acaso, o acaso for tão filho da puta quanto você e nos colocar na mesma calçada, indo em direções opostas, me faz um favor? Passa direto, finge que eu morri. Não me lança nenhum olhar de pena, ou simpatia, ou qualquer outro tipo de sentimento que eu vá provocar em você. Porque, a verdade mesmo, é que quando você sair, vai - de uma maneira ou de outra - levar ao óbito uma parte de mim.

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