sexta-feira, 26 de abril de 2013

EU NÃO ACREDITO EM SEGUNDA CHANCE.


Eu gostaria que você pensasse duas vezes antes de sair por essa porta. Eu já te disse, mas vou repetir: um pé colocado fora e não tem mais volta. Eu quero continuar batendo nessa mesma tecla, pra que você entenda de uma vez por todas que eu não sou um cara de segundas chances. Quero que você saiba que eu não insisto no erro, que eu não dou murro em ponta de faca, e que você não vai me fazer de bobo. Eu te disse exatamente o que você encontraria quando abrisse a porta do meu apartamento. Eu te avisei sobre a sala bagunçada, a louça suja na pia da cozinha. Eu te disse que deixara as bebidas alcoólicas, porque havia decidido ser uma pessoa inteiramente sóbria, mas você insiste em querer me fazer acabar com uma garrafa de vinho toda sexta à noite. Eu não consigo acompanhar seu pique. Eu não sou de clubes noturnos, de acordar cedo para andar de bicicleta, de trilhas as seis da matina. Eu prefiro a preguiça do domingo, maratona de seriados no sábado. Nada de ressaca, dor de cabeça, estômago revirado. No dia que nos conhecemos, eu te expliquei exatamente como eu era, e como seria namorar com um cara como eu. Eu te falei dos meus defeitos, das minhas manias, das aulas de yoga, do tempo que eu perdia na frente do computador escrevendo poesia, e você achou tudo isso uma maravilha. Ainda acrescentou dizendo que eu era quem você sempre quis. E eu fingi que era a primeira vez que eu escutava essa história de destino, de alma gêmea, e achei bonito também. Eu achei bonito porque nunca considerei justo perder a fé nos outros por culpa de outras decepções. Hoje eu sei, meu erro é acreditar demais. E mesmo sabendo disso, eu continuo acreditando muito. Se eu perder esse pedaço, estou certo de que o resto estaria tentado a desabar no chão. E aí eu não seria nada mais que cacos de um alguém que desacreditou muito cedo. Eu gostaria que você parasse de dizer que eu sou muito novo, porque eu vivo musicalmente nos anos 60 e ainda não completei vinte e três anos. E que você ter chegado ao mundo quatro anos mais rápido do que eu, não te faz alguém mais experiente. Porque naquele dia que nos conhecemos, você foi bem claro quando disse que idade era o de menos, e agora usa como argumento para querer dar no pé, justo depois de ter mostrado meu lado A e B, meus discos, meus filmes preferidos, minha caneca de tomar café e minha coleção de selos. É assim que acaba? Você dizendo adeus e entrando no primeiro táxi? Ninguém deveria fazer uma crueldade dessas com outra pessoa. Ninguém deveria invadir um recinto, revirar tudo e depois sair como se nada tivesse acontecido. Deixei que você tirasse coisas do lugar que ninguém nunca antes tinha posto as mãos. Mas se é isso que você quer, não vou te obrigar a ficar. Para de pensar e dá o fora daqui.

15 comentários:

  1. "Eu não consigo acompanhar seu pique. Eu não sou de clubes noturnos, de acordar cedo para andar de bicicleta, de trilhas as seis da matina. Eu prefiro a preguiça do domingo, maratona de seriados no sábado. Nada de ressaca, dor de cabeça, estômago revirado." - Durante a maior parte do seu texto, parecia que era eu escrevendo. Sem brincadeira. E além de ter me identificado demais com as palavras, preciso dizer que concordo plenamente. Segundas chances deixam tudo com um clima de "tentando e não conseguindo", de "medo de terminar". Prefiro partir pra outra. Muito radical? Talvez, mas acho que vc concorda comigo.

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  2. Tambem não acredito em segunda chance,
    para mim qualquer chance é a última.

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  3. As pessoas são tão vazias e estranhas hoje em dia. Nós que pensamos, escrevemos... Somos tão mais sensíveis, cara.
    A gente quase nunca deixa alguém entrar e quando acontece de deixarmos a pessoa, vem, revira tudo e vai embora... Verdadeiros turistas, falsos moralistas.

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  4. Qué dureza. Sentín nas miñas carnes a tensión do momento o.o

    "ocê achou tudo isso uma maravilha. Ainda acrescentou dizendo que eu era quem você sempre quis. E eu fingi que era a primeira vez que eu escutava essa história de destino, de alma gêmea, e achei bonito também. Eu achei bonito porque nunca considerei justo perder a fé nos outros por culpa de outras decepções. Hoje eu sei, meu erro é acreditar demais. "
    Que desconsolador. É decepcionante... pero tamén é bonita a túa forma de pensar. Non a mudes. Sempre se atopa por aí a alguén que non nos defrauda.

    Encántame o ton mordaz, tranquilo pero furioso, non exento de pena, que vai collendo forza até a brusca fin, coa última frase cuspida con rabia, con amargura e con desprezo. O lector empatiza fácilmente contigo e únese ó teu enfado, con razón. Miserable. Que marche e non volva. Polo menos queda o consuelo de que a súa historia serviu para escribir outro texto xenial.

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  5. esse texto caiu como uma luva pra mim. na verdade certas coisas não merecem nem uma 1a chance. parabens pelo tom sincero do texto, gostei.

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  6. Também penso que perder a fé nos outros pelas decepções é quase como uma amputação. Sabe, segundas chances são difíceis, sei disso pelo tico de vivência que tenho. O problema é a indecisão e a falta de carinho das pessoas. Obrigado pelas visitas e pelos comentários eu adoro quando você passa por lá.
    Abraço Moço.

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  7. Tudo depende da relação em causa.
    Mas às vezes é isso mesmo e é preciso abrir a porta e deixar sair...
    Gostei do texto.
    Abraço.

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  8. No começo isso sempre acontece, aconteceu comigo (rs...). No inicio sempre somos cartões postais. E há também os opostos que se atraem, costumo dizer, se distraem. Depois sempre vem as cobranças, a ditadura de em vez da completude, a extensão, ou os famosos: - Você já me conheceu assim. Ótimo!

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  9. O pior é que o coração sempre dá a segunda chance. e o erro persiste.

    Profundo! Gosto do que você escreve!

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  10. Oi João, fiquei muito feliz ao ler o seu comentário, principalmente porque veio de alguém que também sou fã da escrita. Escreves muito bem!
    E me vi em várias partes nesse seu texto, não que eu tenha vivido algo tão parecido, ou até foi em partes, mas por um ser um texto real, cheio de sentimento. Vi que escreveu com a alma, e não usando só o lado bonito que ela tem. A vida tem dessas coisas, e as pessoas então nem se fala...hora quer, depois desiste, mesmo dizendo que jamais desistiria...será que ainda tem tempo de aprender como a vida funciona?

    Tem texto novo lá no blog, espero que goste. Espero sua visita.
    Beijos.

    http://venenosemacas.blogspot.com.br/

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  11. a maioria das pessoas parte assim, mesmo sabendo tudo que tinha pela frente. tudo o que não foi escondido. e isso é tão desumanamente covarde, na maioria das vezes.

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  12. Segundas chances são sempre perigosas...

    Um abraço

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  13. Engraçado que desde o inicio do texto me ocorreu a música da Adriana Calcanhoto...

    "Ainda tem o seu perfume
    Pela casa
    Ainda tem você na sala
    Porque meu coração dispara?
    Quando tem o seu cheiro
    Dentro de um livro
    Dentro da noite veloz..."

    Gosto dos paradoxos, ainda mais quando o "vai embora daqui" tem gosto de "Fica"!

    Bom texto!

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