sábado, 22 de novembro de 2014

NÃO TEM NINGUÉM EM CASA.

ele acabou de sair. disse que iria ali e voltava rapidinho. quando ele voltar, diz pra ele que eu estive aqui? digo. 
por que você não quer falar com ninguém? não sei, Clara. eu não sinto vontade de sair do meu quarto, entende? ah, Caio, eu entendo, mas... por que? isso tem a ver com aquela história do Lucas? também. é muita coisa. é aquilo tudo que eu já te disse. são todos esses meses acumulados no organismo. tem uma hora que a gente precisa colocar pra fora e não sabe como. nem tudo nessa vida se resolve chorando. eu tento me manter ocupado, pelo menos. eu estudo. eu vejo um filme. eu leio um pedaço de um livro. faço brigadeiro. peço uma pizza. escrevo no meu blog. e converso com você. aliás, você é a única que me dá atenção, Clara. você não pega o celular no meio do meu desabafo, nem me interrompe enquanto processo aquilo que ainda não está pronto pra ser despejado. você não vira os olhos para os lados. você me vê. me ouve. me assiste. como se eu fosse o filme mais interessante que você já viu na vida. por que eles não podem ser como você? seu interesse pela minha vida. a forma como você me deixa deitar no seu colo. o apoio. todas coisas tão simples que ninguém dá mais de graça hoje em dia. tudo funciona como moeda de troca. e eu nunca ganho nada, Clara. nunca. sempre saio perdendo. esse ser humano que você vê na sua frente está perdendo feio pra vida. me diz, me diz, como eu faço pra virar o jogo ao meu favor? não quero ser esse cara ríspido que afasta todo mundo, mas esse mundo está tão superficial. lembra daquele meu encontro do mês passado? eu arrumei todos os livros, justamente pra ficarem bem escancarados. quando ele chegou, eu o acomodei e disse que poderia ver meus livros se quisesse, mas ele nem se mexeu. preferiu fazer qualquer coisa no celular. nossa, meus livros me entregam tanto. ele poderia ter evitado muita coisa se tivesse dado uma olhada nos títulos. ele veria que não valeria a pena ser filha da puta comigo. ele saberia que eu não merecia ser ignorado, ou que não era alguém em busca de sexo. Caio, você tem que ser paciente. mais? não é desespero, Clara, é raiva. o que eu faço de tão errado? qual o meu defeito? se as pessoas parassem pra me ouvir por alguns minutos. aceitassem meus convites. não sou nada daquilo que elas imaginam que eu seja. provavelmente sou melhor. eu não me acho, Clara. nunca pensei isso, Caio. eu penso justamente igual a ti. se eles te conhecessem como eu te conheço, quem estaria aqui não seria eu. 

Não seria eu. 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Caixa postal.

Até que um dia você decidiu discar meu número. De tanto tocar caiu na caixa postal. No dia seguinte, quando acordei, haviam mais de dez chamadas não atendidas. Ignorei. Não sei, não faço a mínima ideia do que você queria me dizer, se é que teria mesmo algo de importante a ser dito. Eu lembro muito bem onde nós estávamos há duas semanas atrás. Deitados na cama, lado a lado, compartilhando histórias, experiências, por horas a fio. No dia seguinte, eu liguei, conforme havíamos combinado, você atendeu e disse que não podia falar naquele momento, que retornava mais tarde. O "mais tarde" durou vários dias sem dar sinal de vida. Até que eu larguei de mão. Ir atrás, ficar em cima, pra que? Por que? Se você não veio, é porque não queria vir e ponto final. Não tenho que ficar choramingando pelos cantos, a vida segue. Ah, e como segue. Você nem sabia, mas era a minha última tentativa. Aquela na qual eu apostei todas as fichas que me sobravam no bolso. "Só mais essa vez", disse a mim mesmo. Como alguém que tenta insistir, mesmo se esforçando ao máximo para permanecer de pé. Foi como uma partida de sinuca onde nenhuma bola caía. Foi um arremesso mal sucedido no boliche, onde eu acompanhei a bola ir rapidamente para à esquerda, deixando todos os pinos intactos. E eu que pensei que dessa vez seria diferente. Não foi. Só Deus sabe se um dia vai ser.