segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Não diga nada.

Foi uma das frases que mais martelaram a minha cabeça nesses últimos dias. Quando, afinal, eu devo abrir a boca? Enfim, quando cheguei para trabalhar hoje, segunda-feira, haviam deixado um recado na minha mesa, que dizia: venha até a minha sala assim que chegar, Eduardo. Eduardo era meu chefe. Não só meu chefe, Eduardo era a pessoa por quem eu nutria um amor do qual ele nunca foi capaz de desconfiar. Parecia que estava caminhando para a guilhotina, e foi mais ou menos isso mesmo. A empresa estava precisando fazer cortes, e cortes justamente na área de criação. Para o meu azar, só haviam duas pessoas na criação. Eu e Clara. Clara era a atual namorada de Eduardo. Perguntei-me se não deveria dizer tudo o que sentia esses anos todos e me livrar logo desse peso, afinal, o que poderia acontecer? Eu estaria fora dali de qualquer jeito. Não veria o Eduardo tão cedo. E eu poderia seguir em frente, estar livre para me apaixonar de novo. Quem sabe dar uma chance pro Jorge, o meu vizinho que escuta MPB o dia todo e já me chamou pra jantar dezenas de vezes. Tão insistente investindo em mim, mesmo quando eu já não pareço alguém com quem outra pessoa gostaria de estar. Ana, Ana. Ana, você está me ouvindo? Sim, estou, respondi. Eduardo, já que eu não vou voltar aqui amanhã, tem uma coisa que você precisa saber. Eu te amei. Eu te amei desde o momento que a gente se cruzou ali naquele corredor. Eu nunca comentei com ninguém, e nunca me aproximei porque eu temia que seria impossível separar o trabalho da vida pessoal. Eu temi que as pessoas comentassem. Eu não gosto que falem mal de mim pelas costas. Mas hoje eu sei que não importa as medidas que eu tome, sempre vai existir alguém insatisfeito com a própria vida, que vai se achar no direito de comentar com outras pessoas que o que eu ando fazendo comigo mesma é algo errado. Talvez se eu me preocupasse menos com o que os outros pensam, eu teria vindo aqui antes por conta própria. Devo ter perdido tanto na vida por isso. Sempre com medo de desapontar meia dúzia de pessoas egoístas que eu nem sequer gosto. Que estranho, não é? Ana, eu perguntei se você tem alguma coisa a dizer. Quer saber? Não, tudo que eu queria dizer já foi dito. Mas você não disse nada, Ana. Exatamente. Quando você não tem algo de bom a ser dito, é melhor ficar em silêncio. Tchau, Eduardo. 

Até mais!